STELLA. “Dancing pornography”. In: BRAY, Abigail e REIST, Melinda. Big Porn Inc.: exposing the harms of the global pornography industry. North Melbourne, Vic: Spinifex Press, 2011. p. 144-149. Traduzido com permissão da autora.
Todo dia eu temia perder meu trabalho. Não havia segurança, e se o clube dissesse “vai”, eu ia. Uma vez paguei a porcentagem do clube para uma moça no bar que estava fazendo os registros no livro, mas não assinei o recibo porque fui chamada pra dançar. Ela disse que anotaria no livro e que eu podia assinar depois da dança. Quando voltei pra assinar, ela disse que eu não havia dado o dinheiro. Protestei, mas ninguém acreditou em mim. Este foi o momento em que entendi minha realidade: acreditavam nela porque ela era uma pessoa de verdade, com um trabalho de verdade. Eu era só uma stripper, uma puta, provavelmente drogada e, sem dúvida nenhuma, uma ladra. Eu tinha que pagar a porcentagem novamente ou sair do clube. A realização súbita de que agora eu era uma stripper, não uma pessoa, foi dolorosa.
As pessoas tendem a crer que as strippers trabalham em algum tipo de ambiente protegido e controlado, que elas é que mandam, apoiadas pela autoridade do clube e dos seguranças. Que os frequentadores é que são os abusados, as vítimas manipuladas dessas mulheres loucas por grana que exibem seu sex appeal em troca de dinheiro e nunca precisam desembolsar nada. Algumas strippers perpetuam este mito, não sei se para justificar sua mercantilização para o mundo, para si mesmas ou umas para as outras. Às vezes você se sente poderosa, rodando em volta do pole dance como uma bailarina de caixinha de música, com o público encantado aos seus pés, mas minutos depois, apalpada, beliscada e violada, esta ilusão desaparece.
Na parte de baixo do clube nós “tínhamos permissão para abrir as pernas” e nós balançávamos essa promessa em frente aos homens como contrabandistas que tiram os Rolex de dentro do casaco. “Vamos lá pra baixo, eu vou dançar pra você, 3 músicas e você me terá todinha para a dança mais selvagem que já desejou”. Existe uma suposição, sempre existe esta suposição, quando você compra uma mulher, de que você vai ser o diretor de um filme pornô. Por que o homem não ficaria confuso, sentindo a euforia mental de comprar uma pessoa, uma pessoa vestindo pouquíssima roupa, que finge que a oportunidade de tirar essas poucas peças de roupa para ele é a melhor coisa que aconteceu a noite inteira? Alguns minutos depois, fechados num cubículo à penumbra e decorado como um quarto de casal, com os peitos pressionados contra a cara dele e a vagina à mostra pulando em frente à uma ereção, por que este homem acharia que há algo errado em forçá-la? Por que OCORRERIA a ele que aquilo não é consensual?